Muitas pessoas foram surpreendidas recentemente com a divulgação das novas diretrizes no tratamento da pressão arterial. Mas você sabe como isso afeta a forma como médicos e pacientes encaram a prevenção e o controle da hipertensão?
O documento, divulgado durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, foi publicado por três sociedades médicas brasileiras: Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Segundo ele, valores que antes eram considerados dentro da normalidade passaram a ser classificados como pré-hipertensão. Isso significa que uma pressão de 12×8, tida até pouco tempo como dentro do padrão, agora é um sinal de alerta.
Essas mudanças trazem impacto direto na forma como a saúde é monitorada. Pacientes precisam de maior atenção, médicos devem reforçar as orientações e, em alguns casos, até prescrever medicação preventiva.
Mas o mais importante é entender que o objetivo é reduzir riscos e salvar vidas, incentivando hábitos mais saudáveis e diagnósticos precoces. Saiba mais a seguir.
O que muda com as novas diretrizes no tratamento da pressão arterial?
As novas recomendações representam um marco para médicos e pacientes, com destaque para três pontos:
Reclassificação da pressão arterial
Agora, valores entre 12×8 e 13,9×8,9 passam a ser considerados pré-hipertensão. Ou seja, pessoas que antes recebiam o rótulo de “normais limítrofes” precisam de acompanhamento.
Metas mais rígidas de controle
Antes, manter a pressão em torno de 14×9 era suficiente. Agora, o objetivo é que todos os pacientes fiquem abaixo de 13×8 – independentemente de idade, gênero ou histórico.
Avaliação do risco cardiovascular global
Não basta olhar apenas os números da pressão. O novo documento introduz o escore PREVENT, que avalia a chance de um evento cardiovascular em 10 anos, levando em conta fatores como:
- Obesidade
- Níveis de colesterol
- Histórico de lesões em órgãos vitais
Essas mudanças aproximam o Brasil dos padrões internacionais, já que a Europa já havia classificado a pressão 12×8 como elevada em 2024.
O que é a pré-hipertensão?
A pré-hipertensão é o estágio que antecede a hipertensão, mas já traz riscos consideráveis. Nessa fase, a pressão não é considerada “alta”, mas está acima do que seria saudável.
Sintomas e causas
A grande dificuldade e perigo da pré-hipertensão é que ela não apresenta sintomas. A única maneira de saber se você está nessa faixa de risco é verificando sua pressão arterial regularmente em consultas médicas.
Embora a causa exata da pressão alta em geral não seja conhecida, existem fatores que contribuem para o aumento da pressão arterial, como:
- Excesso de sal e gordura na dieta: o consumo elevado de sódio e gorduras não saudáveis eleva a pressão;
- Sedentarismo: a falta de exercício regular faz com que o coração trabalhe de forma menos eficiente;
- Consumo excessivo de álcool
Fatores de risco secundários
Em menos de 5% dos casos, a causa pode ser outra condição, como:
- Apneia do sono
- Doença renal
- Doença da tireoide
Fatores de risco e complicações
As pessoas com maior probabilidade de contrair pré-hipertensão são aquelas que:
- Usam produtos de tabaco
- Têm Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 25
- Têm um pai ou irmão com pressão alta (histórico familiar)
As pessoas com pré-hipertensão frequentemente já apresentam sinais precoces de aterosclerose (endurecimento das artérias), mesmo que não tenham sintomas.
Isso pode incluir o espessamento das camadas da parede da artéria carótida, o aumento de uma câmara cardíaca e mais depósitos de cálcio nas artérias coronárias do que o normal.
Por isso, a aplicação das novas diretrizes no tratamento da pressão arterial nesse grupo é crucial. Afinal, ao reconhecer o perigo na faixa da pré-hipertensão, os médicos podem intervir com mudanças de hábitos e, se necessário, medicação.
Assim é possível contornar o problema e proteger coração, rins e cérebro do paciente antes que o dano se agrave.
Impacto da hipertensão na saúde
A hipertensão é uma doença comum e perigosa. Segundo a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), 27,9% dos adultos brasileiros convivem com a doença. E o dado mais alarmante é que apenas um terço tem a pressão realmente controlada.
De fato, a pressão alta é uma “assassina silenciosa”. Ela responde pela maioria dos infartos e AVC (Acidente Vascular Cerebral) no Brasil e no mundo.
A razão para isso é simples: a pressão alta exige que o coração trabalhe em uma sobrecarga contínua. Mas essa força excessiva danifica gradativamente as artérias, que ficam mais rígidas, estreitas e propensas à formação de placas de gordura (aterosclerose).
Todo este quadro pode gerar uma série de desdobramentos por todo o corpo:
Coração (infarto e insuficiência cardíaca)
A pressão alta causa um estresse constante no músculo cardíaco, levando-o ao esgotamento (insuficiência cardíaca). O dano às artérias coronárias pode levar ao seu bloqueio, resultando em um ataque cardíaco (infarto).
Cérebro (AVC)
A pressão descontrolada pode romper vasos sanguíneos no cérebro (AVC hemorrágico) ou bloquear o fluxo de sangue (AVC isquêmico), causando lesões cerebrais, paralisia e, em casos graves, a morte.
Para saber mais: Entenda a diferença entre AVC isquêmico e hemorrágico
Rins (doença renal crônica)
Os rins são órgãos muito sensíveis à pressão arterial. O dano contínuo aos pequenos vasos sanguíneos renais pode levar à insuficiência renal, exigindo diálise ou transplante.
Olhos (retinopatia hipertensiva)
A pressão alta pode danificar os vasos sanguíneos da retina, levando à perda de visão.
Vasos Sanguíneos (doença arterial periférica)
A aterosclerose causada pela hipertensão pode levar ao estreitamento das artérias nas pernas e nos braços, causando dor ao caminhar e, em casos graves, risco de amputação.
De fato, o impacto da hipertensão é sistêmico. Por isso, a reclassificação da pré-hipertensão e as novas metas mais rigorosas, propostas pelas novas diretrizes no tratamento da pressão arterial, são um ato de saúde pública.
Pois, como você já viu até aqui, não cuidar da pressão arterial pode afetar o corpo inteiro, reduzindo a qualidade e a expectativa de vida.
Como as novas diretrizes no tratamento da pressão arterial podem impactar seu estilo de vida?
Com a pressão de 12×8 sendo reclassificada como pré-hipertensão, milhões de brasileiros passam a se enquadrar na nova faixa de risco.
Por isso, a principal recomendação para esses pacientes é adotar mudanças no estilo de vida. Algumas orientações incluem:
- Perda e manutenção de peso: se você tem sobrepeso ou obesidade (IMC superior a 25), perder peso é uma das medidas mais eficazes para baixar a pressão. Mesmo uma perda modesta, de 5% a 10% do peso corporal, pode fazer uma diferença significativa;
- Redução do consumo de sódio (Sal): o sal faz o corpo reter líquidos, o que aumenta o volume de sangue e, consequentemente, a pressão nas artérias. Então comece desde já a reduzir o sal de adição. Além disso, evite alimentos processados, enlatados e congelados, que são verdadeiras bombas de sódio;
- Aumento da ingestão de potássio: o potássio ajuda a neutralizar os efeitos negativos do sódio. Por isso, inclua alimentos ricos em potássio, como bananas, abacate, espinafre e feijão, em sua dieta;
- Padrão alimentar DASH: adote o padrão alimentar DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), que é focado em frutas, vegetais, grãos integrais, aves, peixes e nozes, limitando o consumo de carnes vermelhas, doces e alimentos com alto teor de sódio;
- Prática regular de atividade física: exercitar-se regularmente fortalece o coração e melhora a circulação. Procure fazer pelo menos 150 minutos de exercício aeróbico de intensidade moderada por semana;
- Fuja do tabagismo: fumar danifica as artérias e aumenta a pressão arterial imediatamente. Parar de fumar é uma prioridade inegociável;
- Limite o consumo de álcool: o consumo deve ser limitado a uma dose por dia para mulheres e até duas doses por dia para homens;
- Gerencie o estresse: o estresse crônico contribui para o aumento da pressão arterial. Então vale explorar técnicas de relaxamento, meditação e hobbies para ajudar.
Lembre-se: esses hábitos são o primeiro passo para manter a pressão arterial dentro da nova meta (<13×8) e reduzir riscos cardiovasculares. Mas é preciso ir além – saiba mais no próximo tópico.
A importância do acompanhamento médico contínuo
As novas diretrizes no tratamento da pressão arterial deixam claro que mudanças no estilo de vida são fundamentais, mas não substituem o acompanhamento médico.
Medições frequentes, check-ups regulares e discussões sobre o escore de risco cardiovascular permitem que cada paciente receba orientações personalizadas. Além disso, o médico pode avaliar se há necessidade de:
- Iniciar medicamentos em baixa dose
- Associar diferentes classes de remédios
- Monitorar com exames específicos, como MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial)
Vale lembrar que o documento traz recomendações específicas para diferentes fases da vida e condições de saúde, como gestação, menopausa e uso de anticoncepcionais. Isso reforça que cada paciente deve ser tratado de forma individualizada.
Portanto, não basta apenas medir a pressão. É preciso olhar para a saúde como um todo e contar sempre com o suporte de profissionais especializados.
É hora de colocar as novas diretrizes no tratamento da pressão arterial em prática
As novas diretrizes no tratamento da pressão arterial mudam a forma como entendemos a pressão considerada “ideal”. Com a reclassificação, milhões de brasileiros agora estão na faixa de pré-hipertensão e precisam de mais atenção à saúde.
A boa notícia é que mudanças no estilo de vida e acompanhamento médico adequado são capazes de prevenir complicações e garantir mais qualidade de vida.
Se você descobriu que está dentro da faixa de pré-hipertensão, saiba que não está sozinho. Adotar hábitos saudáveis e seguir o plano de tratamento sugerido pelo seu médico faz toda a diferença para manter o coração saudável no futuro.
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