O tratamento da dor oncológica é um desafio para as equipes multidisciplinares que atuam no cuidado dos pacientes com câncer.
Segundo o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer, a dor moderada ou intensa ocorre em 30% dos pacientes com câncer recebendo tratamento, e em 60% a 90% dos pacientes com câncer avançado.
Mas, na maioria dos casos, é possível buscar tratamentos efetivos que conseguem sanar ou amenizar as dores. Abaixo, entenda mais sobre o assunto.
Dor oncológica: o que é
A dor oncológica é comum em pacientes com câncer e até mesmo em parte dos pacientes já curados da doença. Ela pode ocorrer devido a causas do próprio tumor, mas também em decorrência do tratamento e dos fortes efeitos colaterais da quimio e radiologia.
De acordo com o Manual de Cuidados Paliativos Oncológicos, do Ministério da Saúde, aproximadamente 80% dos pacientes oncológicos vão apresentar dor em algum momento durante a evolução da doença.
Mas apesar de ser comum, não significa que ela deva ser normalizada. Os pacientes devem receber toda a assistência para alívio do sofrimento e melhora da qualidade de vida.
Escala da dor oncológica
Definida pela International Association for The Study of Pain-IASP como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada ao dano tecidual real ou potencial, medir a dor do paciente é uma dificuldade para os profissionais de saúde.
Isso porque ela está relacionada a aspectos multifatoriais, cognitivos, sensitivos e também subjetivos relacionados à tolerância, influências da personalidade e até culturais.
Uma maneira comum de medir a dor oncológica é a partir da escala visual numérica (EVA), na qual:
- 0 é totalmente sem dor
- de 1 a 3: leve.
- de 4 a 6: moderada
- maior que 7: severa
- 10: insuportável.
Causas da dor oncológica
Dentre as causas da dor oncológica estão:
- o próprio câncer (46% a 92%): neste caso, algumas causas comuns são a invasão do tumor no sistema ósseo, invasão tumoral no sistema nervoso periférico e também a partir da extensão direta às partes moles e aumento da pressão intracraniana.
- relacionadas ao câncer (12% a 29%): ocorre em forma de espasmos musculares, linfedema, escaras de decúbito, constipação intestinal, dentre outras;
- associada ao tratamento antitumoral (5% a 20%): neste caso a dor está relacionada ao pós-operatório de mastectomias, amputações e outras cirurgias. Ou ainda devido a pós-quimioterapia e pós-radioterapia, que podem ter como consequência mucosite, esofagite, dentre outras;
- desordens concomitantes (8% a 22%), como por exemplo, osteoartrite e espondiloartrose, etc;
Os pacientes podem ter mais de uma causa de dor, por isso, é essencial que os médicos envolvidos identifiquem a origem, para que possam recomendar o tratamento adequado.
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Quadro clínico da dor oncológica
No rastreio dos sintomas do paciente é preciso identificar os tipos de dor oncológica sentidas. Veja as principais possibilidades:
Síndromes de dor aguda
A dor aguda tem início súbito, além de ser de forte intensidade, podendo estar relacionada a afecções traumáticas, infecciosas ou inflamatórias.
Pacientes com este tipo de dor costumam vocalizar e buscar posturas de proteção. Já as respostas corporais associadas podem aparecer em forma de aumento da pressão arterial, taquicardia, agitação psicomotora e ansiedade.
De maneira geral, a dor aguda costuma responder rapidamente à medicação e não é recorrente.
Síndromes de dor crônica
A dor crônica se difere da aguda, pois costuma causar modificações no sistema nervoso central, que procura se adaptar a este estímulo.
Essa dor é prolongada e persistente, podendo aparecer de maneira contínua ou recorrente.
Está comumente associada a quadros de depressão e ansiedade e possui padrão evolutivo e intensidade variável, de acordo com o paciente em questão.
Dor Nociceptiva
Engloba as dores somáticas, isto é, relacionada a lesões da pele ou outros tecidos e também visceral, originada a partir das vísceras abdominais e/ou torácicas.
Pode estar associada a náuseas e vômitos e costuma ser descrita pelo paciente como uma dor profunda que pressiona.
Dor neuropática
Pode ocorrer devido a lesões no sistema nervoso periférico ou central, sendo descrita com sintomas de irradiação neurodermica e queimação.
Não é uma dor que costuma ser aliviada com medicamentos analgésicos, opiáceos e não opiáceos.
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Como tratar a dor oncológica
A principal dica para os profissionais de saúde é identificar de onde vem a dor do paciente e não subestimá-la.
Na monografia “Ações de Enfermagem no Controle da Dor Oncológica em Hospital Gerais” destaca-se o despreparo dos profissionais e suas crenças inapropriadas a respeito das terapias de alívio da dor na literatura médica, como a causa primária para uma analgesia ineficaz da dor oncológica.
Principais orientações para o tratamento da dor oncológica
Para reconhecer as síndromes dolorosas em pacientes com câncer, o manual de cuidados paliativos oncológicos do Ministério da Saúde recomenda:
- definir a etiologia e fazer o diagnóstico da dor;
- selecionar medidas apropriadas para melhor avaliar o paciente;
- escolher a melhor terapêutica; e
- fazer a informação prognóstica.
O objetivo inicial é livrar os pacientes da dor noturna, melhorando o sono e quebrando o ciclo: dor – insônia – exaustão – maior dor.
Em seguida, é preciso aliviar as dores no repouso e, finalmente, durante a sustentação de peso e movimentos.
Tratamentos sem o uso de medicação
São chamados de tratamentos alternativos aqueles realizados sem o uso de medicamentos, porém podem ser realizados em complementação a um tratamento medicamentoso contra a dor e podem contribuir para reduzir o uso da medicação.
Dentre as medidas não farmacológicas estão as de ordem educacional, física, emocional e comportamental, como:
- Estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS) – dos pacientes com dor crônica, pelo menos 70% se beneficiam da técnica;
- Aplicação de calor e frio, seja provocando o relaxamento ou a contração muscular;
- Massagem: melhora a circulação, relaxa a musculatura e produz sensação de conforto;
- Atividade física: além de melhorar a qualidade de vida, promove a diminuição da amplitude articular , distrofia, hipotonia muscular, dentre outros benefícios;
- Relaxamento e distração dirigida: técnicas que auxiliam na atenuação da ansiedade e da tensão muscular, acentuando o nível de tolerância e da percepção da dor;
- Ensaio comportamental: ensina ao paciente comportamentos colaborativos por meio de treinamentos e dessensibiliza componentes do tratamento que provocam sofrimento.
É possível controlar a dor oncológica?
Sim. A Organização Mundial da Saúde criou um método eficaz, capaz de aliviar a dor em 80% dos casos.
O alívio consiste em seis princípios básicos:
- pela boca → administração analgésica sempre que possível;
- pelo relógio → medicação administrada a intervalos fixos de tempo;
- pela escada → utilização da escada analgésica para guiar o uso de drogas;
- para o indivíduo → considerar que pacientes diferentes exigem doses diferentes de analgesia;
- com o uso de adjuvantes, para aumentar a analgesia e controlar sintomas que contribuem para dor, como ansiedade e depressão;
- com atenção aos detalhes: certificar-se de que pacientes e familiares estão bem orientados sobre as instruções necessárias.
E então, já sabia sobre o assunto? Acompanhe outros conteúdos do blog para mais informações como essa!